Sonetos do livro "A saga de um andarilho pelas estrelas"
Andarilho da
estrela cintilante
Por
onde está sozinho em pensamento,
Fugindo
dessa terra de tormento,
Sem
paradeiro certo, triste errante?
E
procurar o que no firmamento,
Que
aqui não encontrou sonho distante
Nenhum
outro arrojado viajante?
Volta!
Nada se perde com o tempo...
“Felicidade
quis, sim, encontrar
Nesse
vasto universo, de numerosas,
Infinitas
estrelas, não hei de errar!
Mas
ilusão desfez-se em nebulosas,
Tão
longe descobri tarde demais:
Meu amor deste lugar partiu jamais!”
Num foguete Andarilho da alvorada
Vai
voando viajante espacial,
Pássaro
reluzente de metal,
Cruza
o céu Valentina corajosa.
Adereços
de luzes de cristal
Enfeitam
minha nave portentosa,
Pioneira
a conquistar Lua dourada
Destronando
reinado celestial.
E
navega altaneira cosmonauta,
Lá
de cima olha a Terra solitária,
Trilha
por via de estrelas muito alta,
Costurando
crateras, a operária,
Na
fábrica de utopias estelares.
Pois sonhar é preciso, nestes mares...
Acorda, ó Andarilho, acord’acorda!
Um
passarinho lírico pi’assim
O
despertador trina trintrintrim
O
tempo é carrossel que rodarroda
Sonhos
são feitos de pó pirlimpimpim
Vida-é-vivida
pelo mundo-afora
Mas
a saudade nunca vai s’embora
É
um reviver que gir’assinsenfim!
O
Sol fabrica só a hora que brilha
E
alegria é correr no meio da chuva
Quando
vem vento sabor de baunilha.
Chega
a noite crescente – sorri a Lua
Volta
atômica Mab, fada do sono
Amanhã
recomeça o mesmo novo.
Sou Andarilho, vagando na cidade,
Pelas
ruas, estou sempre de passagem;
Sigo
a Via Láctea atrás de uma miragem:
Encontrei
nas Estrelas liberdade.
A
minha vida tenho na bagagem
Não
conheço o que é necessidade
Nada
levo senão muita saudade
Do
que deixei pra trás nessa viagem.
À
noite a lua ilumina o caminho,
Perseguindo
meus passos. E vou e passo;
Nunca
sei onde vai dar o meu destino.
Quem
sabe, nos afagos de um abraço,
Existe
no Universo uma pousada,
Muito longe, no fim
desta estrada?
Quem sabe do Andarilho das Estrelas?
Por
aqui costumava caminhar,
Imaginando
estórias pra contar
Com
jeito extravagante de dizê-las.
Pelos
campos, sonhava estar no mar,
Na
quietude de flores bem vermelhas
Zanzava
como fazem as abelhas
E
a doce liberdade era o seu lar.
Notícias
não se têm faz tanto tempo
Do
aventureiro nômade celeste,
Que
ia para onde apontava um cata-vento.
Não
foi para oeste, norte, sul ou leste
Em
que aventura encontra-se afinal?
Dizem
que está no espaço sideral...
Assim como náufrago solitário,
Perdido
à deriva no Oceano,
O
reino de Netuno soberano,
Entre
a constelação de Sagitário
E
algum ponto no espaço sobre Urano.
Sem
rumo, muito além do planetário,
Forasteiro,
num mundo imaginário,
Um
Andarilho se perde em desengano.
Será
uma ilha distante no horizonte
Ou
trirreme trazendo esperança?
Argonautas
que vêm de muito longe
Oferecer
refúgio nessa andança.
Avistar
terra firme, tão querida,
E
o desejo aportar por toda vida.
Bem de noite, trabalha o Andarilho,
Incansável
obreiro: sonhador.
É
mestre o solitário agrimensor
No
ofício de mensurar o infinito.
Desconhecido
o mundo interior,
Desbravado
e por ele foi medido.
Na
oficina assobia um estribilho,
Mapeando
quimeras com rigor.
Na
divisa indistinta da paixão,
A
fantasia é linha imaginária
Que
demarca loucura da razão.
Em
terra sem utopias, tu és pária,
Vivendo
na fronteira da verdade,
Teimas
sempre inventar realidade.
Por onde vai, Andarilho, o seu andar
Que
assim nunca termina
A
sua sina
De
partir, de fugir, e não parar
Por
onde vai o caminho da sua vida
De
sorrir, de gostar
E
não chorar
Que
assim nunca entristece árdua lida
Entre
emenda e remendos (nada certo):
Viver
feliz sem métrica
Nem
rima
Sem
luz elétrica
E
o mundo por um triz...
A
vida é um soneto descompleto.
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